Brincadeira e Linha
Parte da programação do Seminário Atelier Livre - Arte como encontro e formação, a exposição virtual Brincadeira e Linha nos convida a pensar o universo infantil como temática e a linha como recurso formal da criação artística.
Assemblages, pinturas em parede, objetos artísticos, gravuras e vídeos são as linguagens dos artistas presentes na exposição. Com preocupações e formações diferentes estes artistas compõem o panorama diverso da exposição. Em suas obras, uma análise sobre aspectos da infância a partir de um olhar sobre a criança, a família - em especial mãe - e a sociedade e seguindo dois caminhos de interpretação, o da liberdade de viver e brincar e o cerceamento destes direitos.
Clau Santos e Jerônimo Soares apresentam a liberdade de brincar na imagem da criança soltando pipa que corta os céus de suas representações. Geni Santos e Zé Pretinho trabalham com o brinquedo em si trazendo à tona o poder do imaginário infantil, ela produzindo bonecas com representações de personagens fantásticas, e ele resignificando brinquedos que foram descartados e que resgatam suas memórias de infância.
Julio Basle e Marlene Santana seguem o segundo caminho e apontam para o protagonismo dos corpos submetidos à violência, ao esquecimento, à ausência, o desamor. Ambos emprestam poesia ao que é tão dolorido na sociedade. Ele trazendo nas suas texturas emprestadas de suas influências no trabalho com a serigrafia e a partir de elementos do cotidiano como um tecido de limpeza ou uma toalhinha de mesa pra discutir o papel da mulher na sociedade, ela que traz alfinetes entrelaçados à imagem ou ao próprio tecido, um fio de aço que atravessa a pele e acentua a ideia da dor do sofrimento causado. Os dois artistas trazem em suas poéticas a representação corpos como mapas da memória.
A exposição também traz obras que propõem outros aspectos que se entrecruzam a estes dois caminhos. Cibele Gardin explora a brincadeira por meio da própria linha para discutir questões como a memória, o espaço e o tempo sem perder o caminho das questões sociais, em especial os dos (des)laços que (des)unem as pessoas nas atuais circunstâncias. Andréia Alcantara, se apropriando da linha e dos objetos que a circundam, constroi uma narrativa sobre o feminino interligado à natureza numa busca pela representação da figura da mãe como fonte de origem.
Em todas as obras algumas questões em comum: a busca da representação do corpo como protagonista de situações vividas, sejam por meio de experiências pessoais ou tendo o artista um papel de observador. O uso da linha como elemento de ligação entre diversas realidades, num jogo sempre presente de tensões onde a linha se lança solta sobre tecidos coloridos ou é desenhada por meio das linhas que envolvem corpos de mulheres e crianças representando a violência sentida na pele. Ou, por último, no padrão de texturas que linhas simuladas, costuradas, desenhadas ou cavadas na madeira como pontos de agulhas vem a tona pra compor uma narrativa crítica sobre a sociedade.
A mostra também conta com quatro apresentações musicais ocorridas durante o mês de abril nas palestras que fizeram parte do Seminário Atelier Livre – Arte como Encontro e Formação: Baby Fernandes, Beto Criolo, Coletivo Calundu e Dê Portela.